O Bixiga é nossa casa desde 2004. O grupo Forte Casa Teatro se formou dois anos antes, na USP, mas foi no Bixiga que fixamos residência, que crescemos e nos tornamos quem somos.
Bixiga, bairro caracterizado por sua enorme diversidade, no início, bairro de ex-escravos, depois de italianos, nordestinos, bairro de Adoniran, da Vai-Vai, do TBC e tantos outros teatros, de ontem e hoje.
Dentro do Bixiga está a "nossa" praça, a Dom Orione, pouco conhecida por seu nome, mais conhecida por sua feira de antiguidades, que acontece todos os domingos, e por sua escadaria, que sobe da Rua 13 de Maio até a Rua dos Ingleses. Mas foi somente em 2008 que começamos a nos interessar pela ocupação desta praça. Apesar de sabermos que ela já tinha sido palco para apresentações de outros grupos e artistas, a sensação de abandono de um espaço tão rico em possibilidades nos levou a desejar uma ocupação mais efetiva.
A origem do nosso trabalho foi marcada pelo Teatro de Rua. A partir dele decidimos formar um grupo, pois sentimos que dali vinha algo que nos unia, portencial de imensa expressão, grande possibilidade de inúmeras formas de diálogos. Dele nasceu nossa vontade de fazer um teatro popular, de compartilhar nossa arte com um público que na maioria das vezes está muito distante do teatro.
Esse nosso teatro, por tantas questões, acabou indo parar dentro de um teatro tradicional. Mas foi justamente esse teatro, o Denoy de Oliveira que nos trouxe ao Bixiga. Em 2004 fomos convidados pelo CPC da UMES a administrar esse espaço, e portanto daí nossa residência aqui no bairro.
Aos poucos, nosso trabalho focado na relação com o público e os desafios propostos pela ocupação de um teatro foram direcionando o grupo a uma constante pesquisa sobre a relação da arte com o espaço em que ela ocorre. O teatro Denoy de Oliveira, em 2005, se tornou um Ponto de Cultura - através do edital do Ministério da Cultura - o que nos levou a ter um contato maior com parte da população do bairro, que vinha participar das oficinas e projetos, aumentando nosso contato e nossa relação com o bairro em vários aspectos. Assim, além de desenvolver um grande carinho pelo Bixiga, ampliou-se também nossa visão a seu respeito, as relações estabelecidas por e pelo espaço, bem como o cotidiano de quem vivia e viveu nele, dialogando com suas muitas realidades. E foi graças a esses questionamentos sobre o espaço que o grupo optou por trabalhar mais uma vez com o Teatro de Rua.
Fizemos então da praça, nossa segunda casa, querendo demarcar um espaço para a arte de rua em um bairro que abriga tanta arte, mas infelizmente ainda com tão pouca democracia. Impossível contar quantos espaços relacionados a arte temos no Bixiga, mas quase sempre se mantendo em lugares fechados, e pouco é usufruído realmente pela população do bairro, com exceção dos ensaios da escola de samba Vai-Vai, quase não se vê manifestações culturais nas ruas daqui hoje em dia.
Começamos a ocupação da praça no processo de montagem de "Arapucaia", em 2008, a partir daí tornou-se questão vital transformar aos poucos este espaço numa referência para o teatro de rua do bairro, e quem sabe também outras artes. Em 2009, foram duas temporadas de "Arapucaia" no espaço. A experiência foi fantástica, a cada fim de semana juntavam-se moradores do bairro, frequentadores da feira de antiguidade e dos restaurantes, e público que vinha especialmente para a peça. O espaço se transfroamva, ganhava novo significado, nova vida
Então surgiu o "Prêmio de Apoio a Pequenos Eventos" para Pontos de Cultura. Foi a oportunidade de criar este festival. Este ano com quatro espetáculos, mas com a vontade de que surjam novas edições ampliadas nos próximos anos.
A Pequena Mostra de Teatro de Rua do Bixiga é apenas uma das ações para trazer o teatro de rua a este bairro, ações que pretendemos aprofundar e ampliar nos próximos anos. para isso, convidamos a todos, do bairro ou não, artiostas ou não, a ocupar a praça - e todos os espaços públicos.
A arte de rua coloca em questão a necessidade de re-apropriação do espaço público pelo seu verdadeiro dono, o povo. Tornar a rua um espaço de arte é torná-la um local de encontro e não apenas de passagem. realizar arte na rua significa tirar o cidadão da sua rotina cotidiana e levar a ele uma outra experiência coletiva, prazerosa, divertida, e que o faz refletir sobre sua condição de ser humano inteligente, racional e emocional.. Ocupar a rua com arte, principalmente a rte coletiva, que conta com a participação do público, é por si só um ato político. É um movimento no contrafluxo da ideologia dominante que busca individualizar cada vez mais os homens, tornando-os seres incapazes de agir coletivamente.
Ocupemos, portanto, as ruas e praças do nosso Bixiga.